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Fome de emagrecer

Pesquisa mostra as dificuldades de tratar a bulimia nervosa. As primeiras sensações de uma sessão de comilança desenfreada são maravilhosas – alívio e saciedade.

Mas a culpa surge logo em seguida. “O que vai acontecer com o meu corpo?” É aí que começa o pesadelo de quem sofre de bulimia nervosa, um transtorno alimentar que atinge 1% das mulheres entre 18 e 40 anos. Para se livrar da comida ingerida em excesso, vale qualquer tentativa. A mais comum é provocar vômito, mas há quem tome doses cavalares de laxantes ou diuréticos. Outros ficam sem comer por dias ou tentam queimar as calorias ingeridas em excesso em horas e horas de ginástica pesada.

O psiquiatra Josué Bacaltchuk estudou, em sua tese de doutorado defendida em novembro na Unifesp, a eficácia do uso de antidepressivos no tratamento da bulimia, comparando os resultados com os obtidos com a psicoterapia. A conclusão não foi muito alentadora: mesmo quando os tratamentos são combinados, a vitória sobre as crises de compulsão alimentar não chega a 50% dos casos.

A pesquisa, baseada em uma revisão sistemática da literatura médica referente ao transtorno, mostrou que a psicoterapia, utilizada isoladamente no tratamento da bulimia, é mais eficiente que os antidepressivos. Enquanto o tratamento medicamentoso mostrou resultados satisfatórios em cerca de 20% dos casos, a terapia foi considerada eficaz em 40%. “O problema é que a maioria dos trabalhos avalia a resposta imediata do tratamento, que é a supressão das crises de compulsão alimentar durante dois a quatro meses”, conta Bacaltchuk.

O tipo de terapia considerado pelo pesquisador foi a cognitiva comportamental, que consiste em mudar a maneira como a pessoa cria sua auto-imagem, evitando um comportamento típico do bulímico, que tende a se preocupar demais com seu peso e a forma de seu corpo (ver quadro). “Em geral, quem sofre de bulimia não é obeso, mas se considera como tal”, explica Bacaltchuk. Ele conta que o trabalho foi desenvolvido em cooperação com a Universidade de Adelaide, na Austrália, onde está sendo realizada uma pesquisa sobre a eficácia dos diferentes tipos de terapia no tratamento do transtorno. Vergonha dificulta tratamento – De acordo com o médico, a bulimia pode levar, se não tratada, a alterações no metabolismo, problemas ósseos, dentários e até de fertilidade, sem falar nos quadros depressivos e dificuldades de relacionamento.

As implicações psicológicas da bulimia são graves, segundo Bacaltchuk, porque os pacientes se sentem envergonhados e levam, em média, cinco anos para procurar ajuda profissional, o que dificulta ainda mais a obtenção de resultados satisfatórios. Outro fator que afasta os doentes da busca de uma solução para o problema é o alto custo do tratamento. “São necessárias doses de antidepressivos até três vezes mais altas que as usadas no combate à depressão, e a terapia deve ser intensiva”, afirma o médico. Na avaliação do psiquiatra Jair Mari, do Departamento de Psiquiatria e Psicologia Médica da Unifesp, o trabalho de Bacaltchuk mostra que o impacto dos tratamentos para a bulimia nervosa ainda são bastante moderados.

“O trabalho foi uma revisão completa da eficácia dos tratamentos disponíveis, que permite tirar muitas conclusões sobre o que tem sido feito até hoje para evitar a bulimia”, explica Mari, que orientou o trabalho. Saiba se você sofre de bulimia nervosa Você… … tem crises de compulsão alimentar (ingestão de grandes quantidades de comida em um curto espaço de tempo, acompanhada de sensação de perda de controle)? … adota comportamentos para compensar as crises de comilança (vômito auto-induzido, uso de laxantes e diuréticos, jejum, dietas rigorosas, exercícios físicos em exagero)? … passa pelas situações descritas acima duas vezes por semana há pelo menos três meses seguidos? … acha que o único critério para se avaliar baseia-se em sua forma física?

André Siqueira www.unifesp.br

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