Compulsão alimentar e suas causas
e com maior ou menor gravidade. Ela pode estar presente em vários transtornos do comportamento alimentar, como na anorexia nervosa, na bulimia nervosa e no transtorno da compulsão alimentar periódica. A forma mais incontrolável de compulsão alimentar é chamada em inglês de binge eating. A tradução do termo binge para o Português é muito difícil, já tendo sido tentados “farra alimentar”, “orgia alimentar”, “ataque de comer”, “comer compulsivo” e diversos outros. Pode-se imaginar a confusão que isto tem causado na cabeça dos compulsivos e dos profissionais que tratam do seu problema. Oficialmente este tipo de transtorno é denominado “compulsão alimentar periódica”, mas nós vamos chamá-lo simplesmente de binge. O que é o binge? É definido como um episódio em que a pessoa come uma quantidade exagerada de alimentos, em um curto intervalo de tempo, perdendo o controle sobre o ato de comer. Depois do episódio a pessoa tende a sentir-se triste e arrependida. Alguns pacientes chegam a ingerir mais de 10.000 calorias em um único episódio de binge. E nem sempre os alimentos são os mais apetitosos.
Ocorrem alguns episódios em que a pessoa chega a comer grandes quantidades de feijão gelado e ainda fazer misturas absurdas, como, por exemplo, com leite condensado! Isto nos dá bem a idéia do nível de descontrole que está associado com o binge. Logicamente as formas mais encontradas são as leves, que acontece com a maioria das pessoas que tentam emagrecer. Diversos fatores psicológicos e físicos podem ser apontados como causas da compulsão alimentar. Um exemplo de fator psicológico que pode desencadear um episódio de binge é a angústia de uma pessoa que está tentando emagrecer e acaba não resistindo a uma guloseima que está proibida na rigorosa dieta que estava seguindo. É a chamada “violação da abstinência”, que pode somar-se a outros fatores causais e levar a um descontrole alimentar. É bem provável que você já tenha passado por isso. “Já que eu não consegui me controlar e comi esse quindim que era proibido, vou comer aquela caixa de bombom que eu ganhei ontem.”Este, aliás, é um dos motivos para não se utilizar mais a proibição de determinados alimentos no planejamento alimentar moderno. Um exemplo importante de como fatores físicos podem também causar um episódio de binge é a serotonina. A serotonina é uma substância que transmite informações entre as células nervosas do cérebro (neurotransmissor). Entre todos os neurotransmissores, é o que desempenha o papel mais importante no controle do nosso comportamento alimentar. O principal estímulo natural para a produção desta substância no cérebro é a ingestão de carboidratos.
Quando comemos arroz, pão, frutas ou outros alimentos ricos em carboidratos, a serotonina aumenta. Se nos privamos destes carboidratos por longos períodos, a serotonina diminui. Quando esta diminuição atinge um nível crítico, sendo ela um dos nossos mais importantes freios do ato de comer, abrem-se as portas para a compulsão. Já é tradicional a história das pessoas que, para emagrecer, passam o dia todo comendo quase nada. Pulam o café da manhã, no almoço comem só um bifinho com salada e não comem nada no lanche para emagrecer rápido. Arroz, feijão ou pão, nem pensar. O cenário está montado para um episódio de binge, que em geral vai acontecer no final da tarde ou à noite. Estes dois exemplos de como a compulsão alimentar pode ser causada mostram a importância de se manter uma alimentação equilibrada, com quantidades adequadas de carboidratos, mesmo quando se está tentando emagrecer. Qual a freqüência da compulsão alimentar em pessoas com excesso de peso? Nosso grupo de pesquisas levantou dados sobre uma série de 439 pessoas que procuraram um tratamento médico para emagrecer, com o objetivo principal de determinar a freqüência dos episódios de binge. Mais da metade desses pacientes apresentavam episódios de binge. Aproximadamente 15% tinham pelo menos 2 destes episódios por semana, de forma mantida nos últimos meses. Outras pesquisas realizadas no Brasil e em diversos outros países mostram percentuais semelhantes, provando que a compulsão alimentar é um problema muito freqüente entre as pessoas que tentam emagrecer, devendo ser sempre pesquisada.
Se um problema compulsivo passa despercebido pelo médico ou nutricionista que vão tratar do paciente, ele não receberá um tratamento adequado e seu resultado tenderá ao fracasso. A compulsão alimentar na anorexia nervosa e na bulimia nervosa Muitas pessoas com problema de peso têm compulsão alimentar, mas nem todo compulsivo é obeso. Muitas vezes a compulsão alimentar está presente em pacientes com anorexia nervosa ou bulimia nervosa. Existem 2 tipos de anorexia nervosa – a do tipo bulímico e a do tipo não bulímico. Na anorexia nervosa do tipo bulímico, além da magreza e da recusa em alimentar-se, típicos da anorexia nervosa, ocorre também a compulsão do tipo binge. Na bulimia nervosa, que geralmente ocorre em pacientes com peso normal ou pouco aumentado, sempre está presente o binge. Mas o transtorno da compulsão alimentar periódica é bem mais freqüente que a anorexia e a bulimia, e, quando presente, tende a dificultar os tratamentos para emagrecer. A Síndrome do Comer Noturno Sabe aqueles ataques à geladeira durante a noite? Eles podem fazer parte de uma síndrome que tem sido muito estudada por especialistas. Assim como o transtorno da compulsão alimentar periódica, a síndrome do comer noturno pode ser responsável pela dificuldade que alguns pacientes têm em seguir um planejamento alimentar e atingir um peso ideal.
Apesar deste diagnóstico ainda não estar oficializado, os pacientes com esta síndrome apresentam um comportamento alimentar característico e, muitas vezes, impressionante. O primeiro caso foi descrito em 1955 e é uma história interessante. O psiquiatra americano Albert Stunkard, um dos maiores estudiosos da compulsão alimentar, estava cuidando de uma paciente obesa com graves problemas familiares, o que estava dificultando muito o seu tratamento. Ao discutir o caso com um grupo de estudantes, uma das jovens presentes, obesa, se levantou e, chorando muito, retirou-se da sessão. O Dr. Stunkard quis então saber o que estava acontecendo. A jovem lhe contou que aquilo nada tinha a ver com os problemas familiares relatados pela paciente. Tinha a ver com a maneira como a paciente comia. Ela não sentia fome alguma durante toda a manhã. Quando chegava a noite, porém, ela simplesmente não conseguia parar de comer. O jantar nunca era o suficiente e depois ela continuava comendo sem parar. Chegava a acordar várias vezes durante a noite só para comer. A estudante então disse: “É exatamente assim que eu como e eu nunca tinha ouvido nenhum relato semelhante em toda a minha vida”.
O Dr. Stunkard ficou tão impressionado com este depoimento que começou a pesquisar os mesmos sintomas em outros pacientes obesos. Após a identificação dos sintomas característicos, ele a descreveu como a Síndrome do Comer Noturno. Suas principais características são, além dos excesso alimentares noturnos, a falta de apetite durante a manhã e a insônia. Mais recentemente, o grupo do Dr. Stunkard conduziu vários estudos, atraindo pacientes através de anúncios em jornais, programas de televisão ou em clínicas de emagrecimento. Várias características da síndrome foram identificadas nestas pesquisas: 1 – A freqüência da Síndrome do Comer Noturno variou de 1,5% na população geral, passando por 9.0% em clínicas para tratamento da obesidade, e atingindo 26.0% entre pacientes com obesidade mórbida (IMC>40 kg/m2); 2 – Os pacientes com Síndrome do Comer Noturno geralmente comem mais de 55% das calorias totais de um dia entre as 8 horas da noite e as 6 da manhã; 3 – Eles podem acordar várias vezes durante a noite, geralmente só para comer; 4 – Apresentam uma piora importante do humor durante a noite. A Síndrome do Comer Noturno é, portanto, uma combinação única de um transtorno alimentar, um transtorno do sono e um transtorno do humor. Embora não exista um tratamento específico, alguns medicamentos podem ser utilizados para ajudar no controle do comer noturno e nos sintomas depressivos que podem estar presentes. O transtorno da compulsão alimentar periódica Quando alguém apresenta episódios freqüentes de binge, pelo menos 2 vezes por semana, nos últimos 3 meses, se faz o diagnóstico de transtorno da compulsão alimentar periódica (TCAP).
É uma categoria diagnóstica oficializada há poucos anos e muito resta ainda por ser desvendado sobre sua natureza. Quanto maior o excesso de peso, maior a probabilidade de que a pessoa tenha o TCAP. Podemos ver no gráfico que na faixa de IMC que vai de x a y z, % dos pacientes apresentavam o diagnóstico de TCAP, enquanto entre as pessoas com o IMC dentro da faixa da normalidade, apenas x% apresentavam o transtorno. É muito importante identificar-se esta forma de compulsão quando se inicia um tratamento para redução de peso, porque, se ela passar despercebida, é muito provável que não se consiga a mudança alimentar necessária para o emagrecimento.
Fonte: Emagrecimento.com
Comentários