No consultório com o terapeuta sexual
Quando o assunto é sexo, os tabus não têm fim. Até mesmo os tratamentos, como a terapia sexual, sofrem com o preconceito. No imaginário de muita gente, o tratamento pode estar ligado à exposição, vergonha ou até mesmo a demonstrações explícitas de sexo para o terapeuta.
Nada disso, no entanto, faz parte da realidade. O que está em questão neste tipo de terapia sexual é o benefício da saúde sexual do paciente, que engloga a vida social, a família, o trabalho e, principalmente, a forma como vemos e lidamos com a nossa auto-imagem. O início da terapia sexual se dá com muita conversa, para que se possa fazer um levantamento do histórico do paciente. Todos nós nascemos com um potencial erótico, em maior ou menor grau, e é o histórico de vida de cada um que vai determinar seu desenvolvimento. Família, religião, educação e a sociedade são elementos que influenciam nesse processo. Com uma investigação objetiva, breve e focal, pode-se direcionar o procedimento a ser tomado.
“O tratamento que iniciamos trabalha com uma psicodinâmica, não é uma psicanálise”. O terapeuta vai trabalhar com o aparente, com a situação. Ele precisa unir a parte emocional com a parte física. Primeiramente estudamos a sua vida, como foi a primeira relação, se houveram traumas, abusos sexuais. Assim, com base em um questionário, traçamos o perfil do paciente para podermos auxiliá-lo em seu tratamento”. A parte orgânica da terapia sexual consiste da avaliação de dosagens hormonais e possivelmente ultra-som de órgãos específicos.
“O lado físico muitas vezes apresenta respostas emocionais que dificultam a prática sxual. Por exemplo, um paciente com disfunção erétil pode se afastar da mulher e ela, por não saber a causa disso, começa a pensar que o problema está em si. Assim, se inicia um processo que irá dificultar a relação deles. A função do terapeuta é intervir nessa questão sem incomodar o modo de vida dos pacientes”. Mal-entendidos O maior receio do homem é falhar na hora H e decepcionar a parceira. Já a mulher se preocupa mais com o relacionamento. Ela tem medo de ser rejeitada pelo companheiro, de não conseguir mais seduzi-lo ou atraí-lo. Quando se sente abandonada, fica insegura, o que só facilita para que se trave mais ainda. Assim, quando uma relação é fria, sem cumplicidade entre o casal, os problemas externos são refletidos na cama, contribuindo para um sexo de péssima qualidade.
Com tudo isso, a estabilidade da relação começa a ruir.”A pessoa pode chegar a trair, pois quer saber se estes problemas só acontecem com seu parceiro”. Entre o casal, o homem é quem mais reluta em procurar ajuda. “Muitos homens decidem procurar ajuda depois de se sentirem frustrados, como por exemplo, ao não conseguirem uma ereção mesmo utilizando o Viagra ou medicamentos semelhantes”. É válido lembrar que estes remédios servem para manter a ereção e não para criar uma. Quem possui este tipo de disfunção não conseguirá curar com estes medicamentos”. Felizmente, este cenário está mudando. Aos poucos, as barreiras masculinas ao tratamento vão diminuindo. De acordo com recente pesquisa, hoje os homens demoram ente 1 ano e 1 ano e meio para procurarem tratamento terapêutico. Antes, esse tempo se estendia até 5 anos. A mulher ainda enfrenta questionamentos culturais, que levam à insegurança de lidar com seu próprio prazer sem submetê-lo à necessidade de satisfazer seu parceiro. “A mulher sempre dependeu do desejo do homem.
Ela faz sexo quantas vezes o parceiro a procura e infelizmente está acostumada a não ter orgasmo. Há apenas 60 anos, época em que foi lançada a pílula contraceptiva , a mulher soube que também tem possibilidades de gozar. Só agora é que ela começa a descobrir que o seu prazer não depende do homem, e deve correr atrás do seu prazer”. Ninguém deve se sentir responsável pelo prazer do outro. É preciso que todos tenham liberdade para dizer o que querem e fazer apenas o que sintam vontade. Conversar é fundamental, ter respeito para com o outro, essencial. Embora o homem ainda possa ser preconceituoso em relação à independência sexual feminina, sua insegurança com o próprio desempenho não pode atrapalhar a vida do casal. “A exemplo de hoje, a garotada não se preocupa em manter uma relação sólida, eles querem é mostrar que possuem um bom desempenho e conseguem ter várias relações em uma noite.
A cama virou um palco de demonstrações, o que no futuro acarretará em alguns problemas, pois todos nós precisamos de afeto, senão a relação fica vazia. Uma maior aproximação do casal e a percepção de que sexo é muito mais que penetração pode trazer de volta a libido, o interesse pelo parceiro e a sensação de ser amado. Para atingir estes objetivos, exercícios comportamentais como exposição erótica, posições sexuais, atividades para estimular o toque e re-ensinamentos de conhecimento do corpo são realizados durante durante as sessões de terapia sexual. Quando o paciente ou o casal compreende a razão que desencadeou os problemas, a cura está próxima. Vencendo o tabu Algumas atitudes são muito úteis para vencer as dificuldades e convencer seu parceiro a acompanhá-la em uma sessão de terapia sexual. Primeiro, seja franca. Tenha uma conversa séria e aberta, explique o quão importante o tratamento é para você e para a relação . Afinal, se há sentimentos, um tentará compreender o outro. Peça que seu parceiro se comprometa a ir, apenas, a uma sessão e só depois avalie se vale a pena continuar. Uma vez no consultório, deixe o nervosismo de lado. O profissional está ali para te ouvir e não para julgar. Ele escutará as queixas e avaliará a situação do ponto de vista médico. Um bom especialista é aquele que consegue deixar o paciente confortável. Caso você se sinta mal, procure outro profissional, não se sinta obrigado a continuar um tratamento que não te agrada. Lembre-se: a preocupação a ansiedade só dificultaram a cura. O importante é ter em mente que a maioria dos problemas sexuais possui cura. Alguns podem ser tratados rapidamente, em apenas alguns meses. Então para que sofrer mais? Pense em seu bem-estar e não deixe que a vergonha atrapalhe a busca pela recuperação do prazer.
Dr. Amaury Mendes Júnior Sexólogo
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